sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Administrar é para Administrador

Você iria a um médico que não fosse formado em Medicina?
Você contrataria um advogado que não tivesse diploma em Direito?
Matricularia seu filho numa escola onde os professores não tem licenciatura? Ou que o Pedagogo não seja formado?
Duvido muito.
A existência de regulamentação para o exercício de profissões não é nenhuma novidade. Por motivo muito justo: formação. A propósito, nestes casos, exercer uma profissão sem preencher todos os requisitos legais necessários para tal constitui contravenção penal.
Porém, para os administradores, o cenário é bem outro. Na prática, o mais interessante é ter um administrador, mas pode ser um psicólogo, um contador, um engenheiro.. Não há lei que defina quem é que pode administrar. E aí tornam-se comuns as contratações de profissionais com qualquer nível superior para exercer funções típicas da Administração. Entre elas, gerenciar processos.
Diante desse cenário, foi elaborado o projeto de lei do senado que hoje tramita com o número 439/2015, estabelecendo o que de é competência do administrador, a exemplo de todas as outras profissões. Obviamente, o projeto vem recebendo críticas de entidades de outras classes de profissionais, que enxergam no PLS uma ameaça ao que consideram “territórios” seus. Infelizmente, não dá pra tratar essa questão em sua totalidade aqui, mas há dois pontos que precisam muito ser esclarecidos.
Em primeiro lugar, ninguém está afastando ninguém de nada. Precisamos ter a humildade de compreender que cada profissional agrega conhecimentos e saberes que lhe são particulares e que não são supridos inteiramente pelas outras áreas do conhecimento. Se de um lado, o administrador tem melhores condições de tomar decisões e elaborar estratégias no âmbito empresarial, de outro ele necessita das melhores informações para tomar qualquer decisão e para elaborar as melhores estratégias. O que está se resguardando são as funções administrativas – planejar, organizar, dirigir, controlar – que NÃO, NÃO são ensinadas na faculdade de psicologia, nem na de engenharia, nem na de computação, da forma que são ensinadas nos cursos voltados para a gestão. E isso está sendo feito sem abrir mão da possibilidade de ter informações de qualidade, vindas de um profissional capacitado da área que necessitamos – precisamos agregar conhecimento, não nos assenhorar da área de ninguém.
Em segundo lugar, dizer que este projeto não tem relevância social e que estabelece uma reserva de mercado injustificada é de uma desonestidade sem tamanho. Só no ano de 2011, segundo dados do INEP compilados pelo CFA, ingressaram nos cursos de bacharelado em Administração mais de 800.000 alunos, e mais 600.000 em cursos superiores de tecnologias em administração, representando 23% das matrículas do ensino superior. Isso em apenas um ano. Não é difícil imaginar o contingente de mão de obra efetivamente capacitada para gerenciar que é despejada no mercado todo ano, e é obrigada a competir por espaço com profissionais de áreas que já tem a sua própria reserva de mercado – pois psicólogos, contadores, médicos e demais profissionais já tem as suas respectivas legislações que lhes reservam competências. São 2 milhões de pessoas entrando pro exército da mão de obra precarizada, em apenas um ano. Profissionais de nível superior com todas as condições de gerenciar, substituídos por profissionais que não agregam um terço do conhecimento que agregamos.
Finalmente, para não me estender demais, pergunto: você entregaria sua saúde mental a um administrador? Creio que não. Nenhum de nós saberia com segurança o que fazer. Então, porque entregar uma empresa a um profissional de qualquer outra área, que não seja um administrador?
Administração é para administradores!

Mariana Moreira Serra
Graduanda em Administração (Bacharelado) da UFMA